Sou peregrino

Sou peregrino do amor, cidadão de Jerusalém;
Visto-me de luto e de aflição,
Sinto-me cansado e oprimido
De tanto amealhar desilusões e perdição.
Mas quero revestir-me da Tua Glória
Coloca-me o Teu diadema na minha cabeça
Para que jamais esqueça
Que és Tu o Senhor da minha história.

Levanta-te, Jerusalém! Teus peregrinos já se agitam
Diante da grande notícia da chegada do Messias!
Do Poente e do Nascente, a uma só voz gritam
A alegria dos filhos de novo reunidos.

Vêem de longe, do cativeiro, com saudades de Sião!
Trazem as cítaras antes dependuradas nos salgueiros da Babilónia
Vêm cantando, conduzidos pela Tua mão!
Caminhando, imploram a vinda do Emanuel
Por entre os vales preenchidos e árvores aromáticas
Que dão sombra e paz a Israel!

O profeta de novo clama: “-Preparai o caminho do Senhor”!
Endireitai as veredas: Está próximo o Reino do Amor!

P. Mário Tavares
oração para o Domingo II do Advento, ano C

Oiço Tua voz

Por entre a agitação, oiço Tua voz, Senhor!
Vens sentado numa nuvem
Peregrinando desde o santuário eterno
Até ao coração do homem, sedento do Teu amor.
À Tua chegada, de novo, o tronco de Jessé floresce
Inundando a terra de excelsa claridade;
O sol e a lua vestem-se de festa à Tua passagem
O mar solta rugidos que ecoam no silêncio dos tempos.

E o meu coração agita-se com a Tua chegada
Sempre nova e já tão consumada
Em antigas profecias e novos eventos!
Confirma o meu coração agitado no amor que renovas
E fazes germinar em cada solstício da luz;
Lentamente rompes as trevas e a solidão
Despertam os corações adormecidos
Refazem-se os laços da nossa comunhão.

Erguidos e de cabeça levantada
De olhos fitos em teu resplendor
Somos gente Tua, Senhor!
Como mendigos, abrimos a porta para que entres.
Vou vigiar como sentinela na noite
E orar para que não passes em vão;
Quero que entres em minha casa
E destruas o meu tormento;
Abre-se uma estrada no deserto:
És Tu que vens cumprir as promessas
Escuto já a Tua voz, é o Teu Advento!


P. Mário Tavares
oração para o Domingo I do Advento, ano C

Um clamor

Um clamor de infinito inunda o meu ser
Desenhando as fronteiras de um Reino eterno
Que tem como alicerces a Verdade e a Justiça
E onde o Amor é lei e governa num trono de Luz.

É um clamor que me segreda profecias
E realiza os sinais do tempo novo que povoa os meus sonhos;
Abraço as estrelas que me abraçam
Enquanto mostram o caminho que a minha súplica implora
E nas visões da noite a minha alma chora
Ao contemplar a serenidade do Teu rosto.
- És Tu, Senhor, que eu busco sem cessar!
São a tuas águas que eu procuro no meu deserto;
Sou mendigo do teu amor e do Teu sorriso
Sou cidadão do Teu Reino que sinto tão perto!

Desvanece-se o sonho, revela-se a profecia
E permaneces Tu, Senhor, Palavra eterna
Que edifica a civilização do Amor!
Na transparência do Teu olhar e com Tua voz terna
Me sussurras por entre a multidão:
“- O meu trono é o Teu coração”!

P. Mário Tavares

oração para a Solenidade de Cristo Rei, ano B

Mas eu

O Profeta visitou a cidade!
Vinha exausto da caminhada
Faminto de generosidades incontidas
E sedento da água cristalina do amor.
Olhou-me nos olhos e cruzou-se de relance
Com a minha ânsia de infinito
E com a minha pobreza humana.
De olhar penetrante implorou-me água e pão
Com que pudesse matar a fome e a sede.

Mas eu, Senhor, não sou eu o faminto
Que em cada dia implora o pão da tua graça?
Não sou eu o sedento que espera inquieto
A frescura das nascentes das tuas águas?
Como poderei saciar o profeta de Deus
Quando vem de tão longe a minha fome de infinito
E a minha sede de misericórdia e de paz?

Um sussurro da Tua brisa inundou-me
Diante do olhar do profeta que suplicava
Segredando-me à alma a sabedoria dos justos:
“-E dando que se recebe!”
Prontamente respondi: “-Eis-me aqui, Senhor!”
Sobre o nada que sou e Te entrego
Derrama a Tua Graça que redime todo o meu ser.

P. Mário Tavares

oração para o XXXII Domingo do Tempo Comum, ano B

Cintila no olhar

Cintila no olhar o entusiasmo
De regressar à terra prometida;
Exaltam-se os sentidos e há consolações
Onde havia lágrimas angustiadas
E as vozes embargadas por fartas emoções
Cantam loas ao infinito
Invocando, agradecidas, o nome do seu Senhor.
Revela-se o rosto do Pai
Com a ternura de quem ama
Abre caminhos planos para que não tropecem
Os atribulados agora redimidos
A caminho da eterna Jerusalém.

Quero, Senhor, unir a minha voz
Ao coro dos resgatados pelo Teu amor;
Ilumina com a luz eternal
Meu cativeiro que implora um profeta;
Minha alma ressequida anseia a torrente da água viva
Que só o Teu desvelo me pode indicar.
E na assembleia congregada pelo sopro do Teu Espírito
Serei um filho agradecido na nova Jerusalém
A reedificar o templo onde a Tua Glória resplandece
E a Esperança, em cada dia, só rejuvenesce.


P. Mário Tavares
oração para o XXX Domingo do Tempo Comum, ano B

Mas Tu vens Senhor

Elevam-se altivos os poderosos
Revestem-se de suas pompas e honrarias
E batem-lhes palmas as turbas, iludidas
Com tantos sonhos vãos e hipocrisias!

Mas Tu vens Senhor
Iluminar nossos escolhos e miopias
Revelando uma felicidade que não engana
Porque é eterna e infinita;
Vens dizer que servir é o caminho
Para quem quer chegar à verdadeira sabedoria.
E escandalizas os fortes
Ávidos da ganância que corrói;
E desdenham os poderosos
Sem se darem conta que o seu poder os destrói;
Dá-me de beber o cálice do Teu Sangue
Que derramaste por mim para que também o derrame;
Mergulha-me no Baptismo da Tua luz
Para que o olhar do Pai nos abrace e nos irmane:
É em Ti que ponho a minha confiança
E me deixo envolver com a suavidade das Tuas palavras:
Afagos dum Deus compadecido
Que nos dá um Filho por amor
E o povo no Seu sangue renascido
Serve a humanidade, louva o seu Senhor!


P. Mário Tavares
oração para o XXIX Domingo do Tempo Comum, ano B

Quero mais

Quero mais, Senhor
Mas não sei qual o caminho a trilhar
Nem tenho a coragem de arriscar
Atolado como estou nas mil coisas que tenho
E das quais não me liberto;
Quero mais porque estou cansado de não lutar
Reduzindo os desafios a quimeras
Que me vão dilacerando a alma em cada sol-posto
Que semeia solidão e medo porque anoitece;
Mas quero mais e, por isso, procuro o Teu rosto
Para reencontrar o despertar dos sonhos
Que dentro de mim repousam inertes.

Imploro, Senhor, o espírito de Sabedoria
Que ilumine todo o meu ser
Para que ame mais a Tua paz
Do que toda a prata e todo o oiro.
Quero o cintilar imorredoiro
Que me faça cantar hinos de louvor por toda a eternidade.
Hei-de vencer todas as barreiras
Escalar todos os montes
Por mais íngremes que sejam seus cumeais.
Quero seguir-Te até ao fim
Irei para onde quer que vás!
Não me deixes ficar paralisado
Cabisbaixo e a olhar para trás.


P. Mário Tavares
oração para o XXVIII Domingo do Tempo Comum, ano B

Por entre a multidão

Por entre a multidão o profeta anuncia:
“- Aí está o vosso Deus!”
Brada com todo o vigor da sua alma
Aos corações perturbados que já desanimam:
“- Tende coragem; Não temais!”

-Porque estão nossos olhos tão macerados
Que já não Te vêem? Que cegueira é esta
Que tolhe de sombras bizarras e translúcidas
As minhas possibilidades de luz?
E que peso é este que me sobrecarrega
E impede meus passos de caminhar
Ao encontro dos acenos de esperança
Que o profeta não se cansa de anunciar?

- Impõe, Senhor, as Tuas mãos sobre a minha cabeça;
Mete Teus dedos em meus ouvidos
E Toca a minha língua para que anuncie
Que só Tu és Caminho, Verdade e Vida;
Quero ser profeta do Teu Amor
E não deixar apagar o dom que em mim semeaste;
Vou sujar os meus pés no pó da estrada
E gritar a todos que só Tu és o Senhor.
Louva minha alma o Teu Deus
Não te canses de ser profeta do seu amor!


P. Mário Tavares
oração para o XXIII Domingo do Tempo Comum, ano B

Eis-me aqui

Com a minha veste de profeta
Me aproximo de Ti, Senhor!
Com rosto abatido e por terra
Sem sandálias nos meus pés fatigados
Confiante e com temor
Me aproximo de Ti, mais uma vez, meu Senhor!
“Dá de comer a essa gente!”
Dizes-me com Tua voz de oiro
E de murmúrio de cristais ao cair da tarde;
Percebo no Teu olhar misericórdia e compaixão
Mas eu, Senhor, tremo de inquietação
Perante as tuas palavras que revelam
A minha incapacidade e a minha pobreza.
Como dar pão a tanta gente se o não tenho?
Como saciar a multidão
Se sou eu o caminhante faminto
Que Te imploro um pouco do teu pão
Quando as forças já definham ao cair da jornada?
Ergo os meus olhos cavados e cintilantes
Invoco o Teu Espírito para que me ilumine e esclareça
E redescobrindo o meu olhar de criança
Eis que a Luz me revela e segreda :
- O que te falta é confiança!
Eis-me aqui, Senhor, respondo!
Para repartir o Teu pão na minha pobreza
E saciar de amor todos os que caminham na noite
E Te querem abraçar na confiança da sua incerteza!


P. Mário Tavares
oração para o XVII Domingo do Tempo Comum, ano B

Como bálsamo

A notícia chegou como bálsamo
Para o meu ser atormentado e inquieto:
- Eis que vem o Mestre da Galileia
A semear a misericórdia e a redenção
Entre os pobres famintos de justiça e perdão!
Acorri , pressuroso, com o coração em festa
Minha fé me confidenciava
Que bastava tocar-lhe no manto
Para me curar de todo o mal e pecado.

A multidão apertava de todos os lados
Mas persisti na intenção de alcançar o meu Senhor
E num esforço derradeiro, consegui o meu intento
Com a minha alma a transbordar.
Naquele instante, num encanto de amor
Todo o meu ser se inundou de nova vida
Com o Espírito a suavizar minha dor.

- Quem me tocou? Perguntou o Mestre;
- Fui eu Senhor! E deixa-me tocar-Te sempre
Nas minhas angústias e tardes outonais.
Deixa-me tocar-Te para que me cures
As minhas feridas e o desalento dos demais;
Deixa-me tocar-Te, indiferente aos risos de desdém
Da multidão indiferente;
Eu sou teu, Senhor, sou da Tua gente
Quero tocar-Te no manto e seguir mais além!


P. Mário Tavares
oração para o XIII Domingo do Tempo Comum, ano B

Porque pareces dormir

Minhas vagas altivas
Lançam-me com violência no abismo
Perdido na fúria das marés vivas
Prendo as amarras do meu egoísmo;
Quem vem abater tamanha altivez
Que me recupere das velhas paixões
Onde o amor vive agrilhoado
Nas masmorras das minhas prisões?

Porque pareces dormir
Quando minha angústia mais se encapela?
Faz-me, Senhor, redescobrir
As cores quentes e suavizantes
Da minha esbatida aguarela;
Acalma a tempestade dos sentidos
Dá-me o pão da serenidade
Liberta meus frémitos e meus gemidos.

Só com a Tua graça e protecção
Saberei vencer a tentadora natura;
Rasga meu titubeante coração
Molda, com Teu Espírito, meu barro inerte
Faz-me nova criatura.

Para que na noite encontre a estrela polar
Dá-me, de novo, o sorriso de criança
Para que enfrente, destemido, o alto mar
E possa ver surgir, esplendorosa, a Tua bonança.

P. Mário Tavares
oração para o XII Domingo do Tempo Comum, ano B

Arranca-me, Senhor

- Arranca-me, Senhor
Qual ramo rebelde de um cedro ideal;
Arranca-me e leva-me nos teus braços
Para um monte ainda mais alto
Que só o Teu amor eterno é capaz de edificar;

Na voragem do tempo vou declinando
E consentindo na mediania hipócrita:
Ramo agitado pelo vento
Imploro a força da tua mão
Que retempere a minha hesitação
E me revigore no meu lamento.
- Planta-me, Senhor, gera-me de novo
Meu barro anseia pelo Teu sopro vital;
Ressequido na aridez do deserto
Busco a água viva da fonte eternal
Onde o amor renasce
E a esperança reverdece.

Quero ser árvore nova
No eterno monte sagrado
Da tua plantação de Luz!
Só em teus braços me sinto amado
Só no Teu monte descubro o caminho
Que à Tua fonte me conduz!


P. Mário Tavares
oração para o XI Domingo do Tempo Comum, ano B

Eu Te louvo

Eu Te louvo, meu Deus
Porque na criatividade do Teu amor
Me revelas o Teu ser
E, assim, dás alento ao nosso existir.

Porque insisto em olhar-Te lá nas alturas
Se Te manifestas no meio de nós
Como Pai que acolhe e abraça
E irmão que dá a vida até ao sangue?
Que teimosia insana
Me faz imaginar-te lá tão longe
Se a luz do Espírito que nos irmana
Já a derramaste em nossos corações?

De mil cores Te revelas em nossas vidas
Para que o Paraíso inunde a humanidade
No dom de três Pessoas distintas
No mistério da mesma Trindade.
E já a humanidade se eleva agradecida
Peregrina do olhar do Pai Criador
No sangue do Filho rejuvenescida
Iluminada no Espírito do Amor.
Eu Te louvo, Senhor, eternamente!
Ergo sem cessar o meu canto
Eu Te dou graças por todo o sempre
Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.


P. Mário Tavares
oração para o Domingo depois de Pentecostes, Solenidade da SS.ma Trindade, ano B

Já não sabemos viver

Que rumor é este, Senhor
Semelhante a rajada de vento
Que me faz estremecer de paz inquieta
E preenche de suavidade e luz
Os olhares dos irmãos reunidos em teu nome?

Já não sabemos viver sem este Dia
Em que revivemos na alegria
Os tempos iluminados que vivemos contigo
E celebramos, transfigurados,
O dom da tua presença que conforta.

E que línguas são estas que se vão dividindo
E poisando sobre as nossas cabeças
Nos fazem descobrir a beleza de sermos irmãos
E membros de um só corpo que nos irmana
Para nos enviar como verdadeiros cristãos?

Vem, Espírito ardente!
Todo o meu ser já entoa
Os hinos da nova criatura!
Nos céus e na terra já ecoa
O amor que irrompe na noite escura
E nos faz abraçar a santidade!

É o tempo da Verdade:
Terra e céus se unem já!
Eu sou Teu, Senhor
E sei que no Teu Espírito de Amor
Todo o meu ser ressuscitará!

É Pentecostes!
Que resplandecente está hoje o mundo!


P. Mário Tavares
oração para o Domingo de Pentecostes, ano B

Olhar fito

Estou de olhar fito no céu
E permaneço paralisado, sem reacção
Atónito e transido de pavor:
- Envia-me, Tu, Senhor
Para que vá anunciar a notícia
Que é chegado o Teu Reino redentor!

Envia-me o Teu Espírito
Para que o meu medo e paralisia
Se transformem em fortaleza e confiança;
Desperta o meu sufocado ardor
Inunda-me com o Teu Espírito, Senhor!

Elevaste-Te ao Céu, Tua morada eterna
Deixa que meu coração se eleve também
Ansioso está da comunhão fraterna
Do sacro convívio prometido
Ao caminhante na terra com o olhar fito no além.

Subiste e continuas entre nós
Padecendo a nossa tribulação;
Partiste mas ficaste no nosso meio
Enquanto Te perseguimos e somos infiéis!
Porque somos tão cruéis
Quando derramaste, por nós, tanto amor?
Subiste ao céu e permaneces connosco!
Caminhamos na terra e estamos contigo!
Oh mistério que sem entender persigo
Inebriado de tão grande fulgor!
Acolhe-me no Teu coração
Abraça-me enquanto caminho, Senhor!


P. Mário Tavares
oração para o VII Domingo de Páscoa (Solenidade da Ascensão do Senhor), ano B

Trincheiras

Entre os espinhos que sufocam
Mil esforços desmedidos;
Entre as trincheiras que escondem
Covardias e egoísmos;
Entre os estilhaços que atingem
Olhares incrédulos de terror,
Uma palavra foi dita e no silêncio ecoou:
“- Deus é Amor!”

Entre o alarido das vozes que gritam
Desconfianças, medos e chacinas;
Entre a crueldade dos sonhos que anunciam
Pesadelos, torturas e vinganças;
Entre as memórias amordaçadas
Que imploram libertação na dor
Uma palavra foi dita e no silêncio ecoou:
“- Deus é Amor!”

Jamais o coração contemplou
Uma verdade tão luminosa e fulgurante
Em sua beleza essencial:
“-Deus é Amor”
Lança fora o temor
E livra-nos de todo o mal!

Pode a ciência agitar-se
Em sua frenética busca da Verdade;
Pode a filosofia adentrar-se
Nas profundidades insondáveis do Ser!
Jamais alguém dirá Verdade tão sublime
Como João, discípulo do Senhor:
“- Deus é Amor!”

Dá-me, Senhor, a vontade de acolher
A nova profecia que brota dos teus lábios
E que revelas nas tardes quentes da Galileia.
Sabedoria que ultrapassa o saber dos sábios
Rasga horizontes e a paz semeia.

Quero abraçar o teu anúncio
Que ecoa novo na alma
Quero ser discípulo e jamais desertor
Subir ao monte da esperança
E dizer a todos: “- Deus é Amor!”


P. Mário Tavares
oração para o VI Domingo de Páscoa, ano B

Coragem da mudança

Eu te dou graças, Senhor
Porque o irmão Paulo de Tarso
Teve a coragem da mudança e da conversão.
Na estrada de Damasco a Tua Luz brilhou
Iluminando o seu inquieto coração;
O Teu amor derramado é bálsamo eterno
Que recupera o peregrino sedento:
Eu, Senhor, que também busco na minha noite
O Teu suave e doce unguento.

Os apóstolos confirmam a fé
De Paulo, irmão de todas as gentes
E parte, entusiasmado com a missão
De libertar os que prendera em nome da Lei;
É o Senhor da Lei que agora anuncia
E em vez de amarras, abraça os irmãos
Onde havia noite, resplandece um novo dia.

Dá-me, Senhor, a coragem de mudar
De converter meu coração obstinado
Dá-me também a força de soltar
Os grilhões do egoísmo que emolduram meu pecado;
Na minha noite, faz resplandecer o Teu dia
A minha madrugada anseia já
A morada do Teu amor redentor.
Quero ser um sarmento da Tua vinha
Que cuidas com enlevo e afecto
Unido à cepa que és e que regenera
Meu ser cansado e turbulento.
Sê Tu o meu alento
Que irriga meu cansaço e minha espera!


P. Mário Tavares
oração para o V Domingo de Páscoa, ano B

Que cegueira

Que cegueira, Senhor, me invadiu para te rejeitar assim?
Como pude rejeitar a Pedra do ângulo
Que me sustentaria em meus pesos e tribulações
Escolhendo outras pedras mais luzidias mas enganosas
Que ergueram muros em vez do abraço redentor
Que só Tu me podes dar!
Só Tu me curas das minhas enfermidades
Só Tu me redimes nas minhas noites:
Vem, Senhor, Luz que ilumina os meus passos
Para que caminhe na Tua presença!

Quero ser ovelha do Teu rebanho
Nos prados verdejantes do Teu amor
Sob o Teu olhar atento porque és o meu Senhor
Sempre pronto a dar a vida
E no Teu coração misericordioso e compassivo
Encontrar o meu refúgio e a minha guarida;

E um dia, purificado no Teu Sangue
Quero deixar-me fundir na Verdade essencial
Que já derramas em nossos corações
E nos fazes filhos porque és Filho
Para sermos, então, só Amor puro;
Hoje já Te revelas nas nossas estradas
Que percorremos como peregrinos
Mas amanhã, ressuscitados,
Cantaremos o grande hino da gratidão
Das criaturas regressadas à casa do Pai
Para o grande banquete da redenção.

Todos em Ti, por Ti e contigo!
Tão inesperado mistério já nos inebria:
Obrigado, Senhor, porque és hoje
Para que eu também seja um dia!


P. Mário Tavares
oração para o IV Domingo de Páscoa (do Bom Pastor), ano B

Teu rosto

Teu rosto resplandecente
Ilumina meus entraves, meus escolhos
Teu olhar luminoso
Regenera-me e faz-me homem novo
Recupera o brilho dos meus olhos.
Lava-me, Senhor, com a alvura do Teu perdão
Branqueia-me como no dia do meu Baptismo
Estende-me a mão e segura-me
Levanta-me, Senhor, do teu abismo.

Teu nome é Misericórdia e Perdão
Quiseste ser nosso irmão
E nas sendas do mundo, connosco, caminhar;
Vem de novo abrir o Teu peito
Jorrar rios de Luz e de bondade
Que purifiquem a iniquidade do nosso olhar
E da nossa mediocridade persistente.

Ressurge luminoso, Senhor, da Páscoa
Dá-nos a Paz no cenáculo da nossa insegurança
Onde o Tomé que há em mim
Quebre as cadeias da descrença e do temor;
Meto as minhas mãos nas tuas chagas e confesso
Tu és o meu Deus e o meu Senhor!


P. Mário Tavares
oração para o II Domingo de Páscoa (da Divina Misericórdia), ano B

Erguendo ao Alto

Como é suave o anúncio redentor
Que me inunda nesta manhã de libertação:
Ressuscitou o meu Senhor
E todo o meu ser exulta de alegria
Erguendo ao Alto uma oração.
Vou de madrugada ao sepulcro
E és Tu, meu Jesus, quem me acolhe primeiro
Anunciando, como divino jardineiro
A grande notícia tão desejada.
Com a alma iluminada e as trevas mudadas em Luz
Vou ter com os outros discípulos
Para a grande Festa dos povos: Ressuscitou Jesus!

Dá-me a Graça, Senhor,
De me afeiçoar às coisas do alto
De caminhar entre escombros e tensões
Mas liberto e redimido
De meus medos e minhas prisões.

Não deixes que a rotina sufoque
Esta Paz infinita que hoje me inunda;
Que nada me separe de Ti nem obscureça
A esperança que esta manhã anuncia.
Eu sei que o meu Senhor ressuscitou
Rasgam-se as trevas, é o Novo Dia!


P. Mário Tavares
oração para o Domingo de Páscoa

Exultante, corro

Mais uma vez, Senhor
Vens celebrar a Páscoa connosco
E partilhar os nossos passos e tribulações!
Vens ao nosso encontro montado num jumento
Denunciando a nossa arrogância e orgulhos vãos;
Não te cansas de renovar o pacto com teus irmãos
E bebes, de novo, o cálice da nossa esperança
Que nos redime e salva no teu amor.
Mais uma vez, Senhor!
E eu sinto uma nossa atmosfera
Que ilumina os olhares, hoje transparentes
Porque o nosso coração sabe
Que algo de grande está para acontecer!

A festa da redenção dos povos já se anuncia
E eu, exultante, corro a colher ramos e flores
Palmas e rosmaninho, oliveira e alecrim
Que agito com as mãos entre cânticos de júbilo
Porque vens, ó meu Senhor, celebrar a Páscoa comigo
No templo que queres erguer em três dias, em mim.

Sou teu discípulo e Tu o meu Mestre!
Estendo a minha capa de mendigo para que passes;
Oiço pela manhã as tuas palavras, sigo a tua voz
E, sem recuar um passo, com a alma decidida
Percorro os caminhos da vida
Sabendo que voltas a dar a tua, por nós!


P. Mário Tavares
oração para o Domingo de Ramos, ano B

Êxodo de peregrino

Senhor, quantas maravilhas realizadas
Em minha pobre vida inquieta
Desde que pronunciaste o meu nome!
Quantos prodígios e sinais emolduraram
O meu êxodo de peregrino persistente!
Celebraste comigo uma Aliança de amor
Imprimiste a tua Lei no meu coração
E como Te conheço ainda tão pouco
Mesmo se a tua mão que me tira do cativeiro
Onde caio a cada passo
Evadindo-me, cruelmente, do Teu regaço!

Porquê esta rebeldia e ingratidão?
Porque não aprendo em meu sofrimento
A obediência de filho e a confiança de discípulo?
E como me desconcertas, Senhor
Quando respondes com o teu amor
Ao meu caminhar rebelde e inseguro!

Olho-Te na Cruz e revejo-me
Nessa história de condenação infame!
Volto o rosto porque me reconheço
Na história que assumes e que me denuncia;
Suspenso entre a terra e o Céu
O teu olhar nova Aliança já anuncia.

É esse olhar que me atrai, Senhor
E que hoje busco, mais uma vez, suplicante
Para que recupere a tua graça
E só o Teu nome a minha alma cante!


P. Mário Tavares
oração para o V Domingo da Quaresma, ano B

Caminho

É duro o meu cativeiro, Senhor,
Neste tugúrio de trevas e desolação;
Parti para longe de Ti e cavei a minha perdição
Numa terra de degredo e horror.
Mas Tu enviastes-me mensageiros de luz
E mais uma vez renovaste a aliança
Com que me amaste desde o berço;
Eu sei que não mereço, mas obrigado, Senhor!

Caminho errante pelo deserto da vida
Pactuando com a toca da víbora
Do orgulho e da minha vaidade;
Intoxicado e feito prisioneiro
Nas prisões que eu mesmo ergui
Sinto-me desfalecer e a sucumbir
Nas teias do meu pecado insistente.
Mas… eis que ergues, no deserto, uma serpente
E que, só de olhar, me cura e redime
Destruindo o cativeiro que me sufoca
E, nas minhas noites de insónia, me tortura e oprime.


Contemplo com os olhos da alma
Tão grande mistério que me vence e seduz
E me segreda serenamente
Que me amas como sou.

Quero que sejas meu baluarte seguro
Onde estarei defendido e vigilante
Não como fugitivo ou apavorado
Mas como vencedor de olhar cintilante.
Abraço a luz do Pai que, de tanto me amar,
Me dá o Seu Filho
Para o meu caminhar de errante.

Obrigado, Senhor
Porque me surpreendes tanto
E me fazes passar do cativeiro que me oprime
À Jerusalém prometida
Onde regresso armado cavaleiro
Com a espada do teu amor
E com o elmo do teu perdão.


P. Mário Tavares
oração para o IV Domingo da Quaresma, ano B

Horeb!

Mais um monte, Senhor: O Horeb!
Mais um caminho de alturas
Onde Te manifestas sedento de Comunhão e Paz!
Não cedes à coerência do Amor e à fidelidade à Aliança!
Mal vês o povo inseguro e cansado
Logo chamas Moisés à Tua presença
Para ser Teu embaixador junto da sua gente aflita.
Quanto desvelo quanto o deserto é mais espinhoso e duro!

Inscreve no meu coração Tua Lei e teus preceitos
Porque sei que, longe de Ti, tudo é frio e escuro
E os horizontes estreitam-se sem acenos de esperança.
Dá-me a humildade para acolher tuas palavras que libertam
Ainda que a minha rebeldia, quantas vezes,
Me impeça de ver quanto amor se esconde
Em cada preceito da tua Lei.

Não busco milagres nem sabedorias fúteis
Só o Teu rosto, no silêncio, eu procuro
Mesmo crucificado entre malfeitores.
Mas se minha alma para Ti se inclina
Nos meus esforços de cada dia
- Porque sigo, então, outros senhores
Quando sei que só Tu sacias minhas a minha fome?
E porque monto minha tenda de cambista
No lajedo dos teus átrios sagrados
Maltratando a Tua presença
Quando sei que só a Tua recompensa
Me enche de profunda paz e serenidade?

Dá, Senhor, a Tua loucura de amar infinitamente
Para que a minha fraqueza crucificada
Habite no Teu Templo reedificado em três dias
Celebrando liturgias excelsas ao som de cânticos eternais!


P. Mário Tavares
oração para o III Domingo da Quaresma, ano B

Contigo, Jesus

Toma-me contigo, Jesus
Como a Pedro, Tiago e João;
Toma-me p´la mão
Para subir ao Tabor.

Sob o peso da minha prostração
Caminho à deriva, pisando memórias
Que me oprimem e esmagam.
Estou encarcerado, Senhor
Em prisões que invento e que quero
Porque as escolho, desenfreado
Na minha liberdade desbaratada
Pelo meu egoísmo fechado.
Mesmo se não quero cavar abismos
Nem atolar ainda mais a alma
Acabo por cair nas malhas da sedução
Do ter, do imediato, do mais fácil
Onde me engano e desmorono
Deixando-me levar
Arrastado pelas ondas vorazes
Do mundo que me rodeia e amordaça.

Leva-me contigo, Jesus, faz-me subir!
Talvez não seja digno que me escolhas
De tão afastado que tenho andado
Mas ouvi o convite que fizeste aos teus discípulos
Quando passava por perto
E caminhava à deriva.
Não sei para onde os queres levar
Nem o que acontecerá no cimo da montanha;
Mas vi o brilho do teu olhar
E a ternura que colocaste no teu convite
E gostava que alguém me olhasse assim;
Sabes, Jesus, estou cansado da indiferença
Do desprezo, da solidão que mata
E que alimento porque também eu sou assim.

Hoje descobri que tens um convite
Onde envolves de Luz os teus amigos
E eu quero subir essa montanha, Jesus!
Será íngreme a escalada?
Será duro o caminhar?
E que vai mesmo acontecer quando chegarmos lá cima
Longe desta inquietação que me angustia?
Deixa-me dizer-te o que gostava de ver
Lá no cimo da montanha para onde levas os teus amigos:
Gostava que Te transfigurasses
Te revestisses de luz
Com uma brancura que nenhum lavadeiro
Conseguisse alcançar;
Gostava de ouvir a voz do Pai
A falar de Ti
E que a nuvem do Teu Espírito nos envolvesse, maternal.

Eu quero subir contigo, Jesus
Mesmo que tudo o que digo, eu não entenda;
Eu sei que, no cimo da montanha, mais uma vez
O teu amor talvez me surpreenda.


P. Mário Tavares
oração para o II Domingo da Quaresma, ano B

Obrigado

Obrigado, Senhor, porque depois da agitação do dia
Nos mandas o repouso da noite.
Eu te imploro que me concedas um descanso tranquilo
Para reparar as minhas forças
Para me recuperar do meu desânimo.
Não me deixes cair nos medos da noite
Onde tudo fica mais sombrio e tenebroso.
Liberta-me das minhas inseguranças
Para que reencontre a tua graça.
Como é suave e serena a tua paz
Que o silêncio da noite me traz.
Não permitas que fique a remoer, noite dentro,
As cenas desagradáveis, vividas durante este dia.
Não deixes que fique a repassar as injustiças que presenciei,
As palavras amargas e duras, os gestos grosseiros
Que, mesmo não querendo, pratiquei.
Envolve-me na tua misericórdia infinita
Liberta-me, no teu Espírito
E concede-me o dom duma noite tranquila.

P. Mário Tavares

Mais um dia

Mais um dia, Senhor, como tantos outros;
Mais um esforço por ir em frente, a muito custo.
Olho à minha volta e vejo a cidade transformada em deserto
Os sonhos desvanecidos, os ideais desmoronados
Tudo é frio e sombrio, sem rasgos no horizonte.
Perco-me na tentação do poder,
Na vontade do "ter" desenfreado
E no desejo de ocupar o Teu lugar
Para que seja eu a medida de todas as coisas
E o centro de todas as atenções.

E sinto que vem de dentro, o frio
Do meu coração inseguro e vazio
Cansado de tanto desacreditar.

Hoje, Senhor, impele-me para o deserto
Onde me encontre com o teu Espírito;
Faz-me acreditar
Para resistir ao mal que me engana
Com mil estratégias que me tiram a paz.
Hoje, Senhor, quero reencontrar a confiança de filho
A humildade do discípulo
A esperança de quem recomeça.
Quero revestir-me da armadura do teu amor
Semear flores no deserto
E partir à redescoberta de novas fontes
Donde brotam tuas águas cristalinas
Que irrigam a secura dos meus sentidos.

Vamos redimir os passos percorridos!
É Hora do Reino acontecer
E é no meu coração e nos meus caminhos
Que vou deixar Teu amor vai florescer.


P. Mário Tavares
oração para o I Domingo da Quaresma, ano B