DOMINGO III TEMPO PASCAL ANO A



No terceiro Domingo da Páscoa, a Igreja propõe-nos o evangelho dos discípulos de Emaús. É um texto emblemático sobre o anúncio da Ressurreição de Jesus e ajuda-nos a manter vivo o espírito pascal que não pode debilitar-se. Santo Agostinho referia-se à Páscoa como um Domingo de cinquenta dias. Este texto ajuda-nos a fazer memória dos acontecimentos em torno da Ressurreição do Senhor e a convocar-nos para os seus sinais.

O episódio passa-se no próprio dia da Ressurreição. Dois discípulos iam a caminho de Emaús. Jesus faz-se companheiro de caminhada sem que os discípulos dessem por isso. O estranho companheiro explicou-lhes as Escrituras para iluminar o desalento em vinham. Acedeu ao convite a que pernoitasse com eles e, ao partir do Pão, reconheceram que era o Senhor. Tomados de grande alegria, foram contar tudo aos outros irmãos que estavam em Jerusalém. Estes, por sua vez, também lhes anunciavam: “Cristo ressuscitou e apareceu a Simão!”

As aparições do ressuscitado são páginas catequéticas que pretendem confirmar o facto da Ressurreição. Jesus aparece em vários contextos, mas segundo um modelo que se reproduz sempre nas diferentes situações. Antes de mais, é Jesus que toma a iniciativa. Os sinais da Eucaristia estão sempre presentes e os discípulos reconhecem que é o Senhor. Finalmente, quem experimentou a presença de Jesus ressuscitado, é enviado a anunciar a boa notícia. Este esquema está bem patente no episódio dos discípulos de Emaús.

Como podemos pôr em práctica esta passagem na nossa vida?

Jesus faz-se companheiro de caminhada. Sucede muitas vezes que no caminho da nossa vida, sentimo-nos sós mesmo quando caminhamos com muitos. A vida é uma caminhada onde olhamos os outros como obstáculos e barreiras. Por vezes, não nos damos conta que Jesus vai connosco, no meio de nós porque não nos apercebemos do dom de quem caminha ao nosso lado. Olhamos mais depressa para as suas debilidades sem nos apercebermos que os outros são sinal da presença de Jesus na minha vida.

Perante os acontecimentos difíceis, fechamo-nos em nós próprios, no nosso drama e sentimo-nos vítimas das situações. Nesses momentos, é a Palavra de Jesus que pode iluminar a nossa vida e aquecer os nossos corações. No Pão da Eucaristia, Jesus dá-se a conhecer como alimento para a nossa caminhada. Desvalorizar a Eucaristia dominical é impedir que Jesus se revele na minha caminhada. Em cada Domingo, Jesus convida-nos aos grandes gestos em que se dá a conhecer: A Palavra e o Pão. Quando aceitamos o convite e nos abrimos à graça da Sua presença, sentimos a vontade de dizer, com a nossa vida, que Ele está vivo e é o Senhor que ilumina as nossas vidas.

O episódio dos discípulos de Emaús é um convite a que nos sintamos caminhantes com Jesus no meio de nós. Ele continua a revelar-se. Não lhe fechemos o nosso coração.

P. Mário



DOMINGO DE RAMOS TEMPO DA QUARESMA ANO A





No próximo Domingo, a Igreja celebra o Domingo de Ramos. Com esta sagrada liturgia, dá-se início à Semana Santa. No Evangelho faz-se a leitura completa da Paixão de Jesus segundo São Mateus.  Neste Domingo, todos somos convidados a trazer ramos de alecrim e rosmaninho ou palmas festivas para evocar a alegria dos habitantes de Jerusalém quando souberam que Jesus vinha celebrar a Páscoa. A deles e a nossa.

O nome de Jesus tornara-se conhecido mesmo em toda a Judeia, pelos sinais e pelas palavras que o mestre da Galileia anunciava. Todo o povo acorria em massa para escutar Jesus e agora, ao saberem que Jesus vinha a Jerusalém celebrar a Páscoa, manifestaram a sua grande alegria, vindo ao seu encontro com ramos de oliveira e palmas, aclamando-O como “Aquele que vem em nome do Senhor”.

A vinda de Jesus não deixou ninguém indiferente: Houve uma grande agitação na cidade, e foram muitos os que vieram para acolher o Senhor. Antes de mais, havemos de colher dos judeus este gesto de entusiasmo. A verdade, porém, é que o mundo nos torna cada vez mais insensíveis à passagem do Senhor. A Páscoa deverá começar por esta atitude decidida de ir ter com Jesus. Se outrora veio a Jerusalém para celebrar a Páscoa, hoje vem ao nosso coração porque quer celebrá-la connosco.

Corremos o risco de estarmos tão absortos com as coisas do quotidiano que nem damos conta da Páscoa de Jesus. Jesus vem visitar-nos e encontra-nos na nossa história concreta, nos nossos dramas e entusiasmos. Ao passar, Jesus inunda-nos com a sua dor e convida-nos à paz que só da sua vida pode brotar.

Celebrar a Páscoa é, antes de mais acolher com entusiasmo, Jesus que passa com vontade de dar a vida por nós.  A palavra Páscoa quer dizer passagem e, de novo, Jesus passa pela nossa vida. O pior que nos poderia acontecer seria ficarmos insensíveis aos grandes gestos de Jesus. Hoje, somos chamados a não ficar de fora, mas sim a mergulhar nos mistérios da Misericórdia do nossos Deus.

O mundo de hoje tem necessidade de Páscoa. Sem o horizonte da fé, a humanidade ficaria presa aos seus egoísmos, à cultura dos interesses individuais, e o seu futuro ficaria irremediavelmente, comprometido. Na Cruz de Jesus, descobrimos a dimensão do seu grande amor por nós.

Volta a ser urgente passar da morte à vida, fazendo da história dos povos, um território de esperança onde o amor é a sua grande Lei. As apreensões, o desânimo latente e ausência dos grandes ideais que o mundo fermenta nos poderes dos egoísmos, fazem-nos descobrir que a Páscoa é uma urgência para nos resgatar das correntes que nos aprisionam e fazer, de novo, ecoar a libertação.

Precisamos de Páscoa. Que nada nem ninguém nos roube o entusiasmo de acolher Jesus. Só Ele é um Salvador que não ilude e nos renova na esperança.


Ao escutarmos a leitura completa da Paixão, deixemo-nos tocar pela graça dessa escuta erguendo ramos floridos, entusiasmados e contagiados pelo Amor que nos redime.

P. Mário

DOMINGO V TEMPO DA QUARESMA ANO A




O evangelho do próximo Domingo é a narração do episódio da ressurreição de Lázaro. Depois da samaritana e do cego de nascença, João oferece-nos mais um texto detalhado sobre um dos milagres cruciais de Jesus. Tal como nos precedentes relatos, também este é rico no simbolismo dos seus personagens, nos detalhes cheios de significado e na profundidade dos seus conteúdos. Também desta vez, todo o texto se desenrola para provocar a fé dos seus discípulos.

Jesus andava pela Galileia a anunciar o evangelho quando soube que o seu amigo Lázaro estava muito doente. Demorou-se por lá ainda mais dois dias e fez-se ao caminho, de novo, em direcção à Judeia, à cidade de Betânia onde vivia a família de Lázaro. Este já tinha morrido. Naquele cenário de dor e de luto, Jesus realizou um dos sinais mais eloquentes de toda a sua Vida pública

Marta, mal soube que Jesus se dirigia para Betânia, correu ao seu encontro, encontrando-O ainda fora da povoação. Saudando Jesus, chorou pela morte do seu irmão. Jesus anunciou-lhe a vida eterna e o seu poder como Messias. Regressou a casa e foi chamar Maria que, correndo também ao encontro do Mestre, rompeu em copioso pranto pela morte de Lázaro.

Este texto põe em realce os sentimentos humanos de Jesus. Ao ver a dor daquelas irmãs e porque era muito amigo de Lázaro, Jesus comoveu-se e chorou também. Talvez seja o texto que mostra mais este rosto humano de Jesus: Jesus era seu amigo, comove-se e chora. Naquele cenário de dor, porém, Jesus anuncia a vida. Vai até junto do túmulo de Lázaro e brada com voz forte: “-Lázaro, sai para fora!”

Este texto é fonte de grandes ensinamentos para todos nós. Jesus não fica insensível face ao sofrimento humano. Em todos nós esses sinais acontecem e motivam o olhar de Jesus. Jesus visita-nos na nossa Betânia onde, no nosso dia-a-dia, sucede perdermos o gosto pela vida e não descortinamos já o seu sentido. Mesmo vivos fisicamente, podemos estar mortos espiritualmente. Jesus vem ao nosso encontro e se tivermos a ousadia de Marta e de Maria de ir também ao Seu encontro, Também nós poderemos ver o quanto Jesus é nosso amigo.

Jesus não nos quer ver mergulhados no sofrimento e no desespero das nossas perdas. Não nos quer ver na solidão que corrói e nos vai destruindo interiormente. Jesus vem até nós para nos dizer: “-Sai para fora”. São para nós estas palavras tal como a morte de Lázaro evoca as nossas mortes. As palavras de Jesus podem remover as grandes pedras que impedem de vermos a luz. Jesus remove todos os obstáculos e faz-nos ressurgir como concidadãos do seu Reino de Amor e de perdão.

Neste tempo de Quaresma, deixemos que Jesus venha a té nós para nos dar a sua Graça e, ao mesmo tempo, saibamo-nos levantar para redescobrir o rosto de Jesus que é sempre novo. Jesus é a vida e acreditar n’Ele é saborear o dom da sua vida e do seu amor.


P. Mário