Contigo, Jesus

Toma-me contigo, Jesus
Como a Pedro, Tiago e João;
Toma-me p´la mão
Para subir ao Tabor.

Sob o peso da minha prostração
Caminho à deriva, pisando memórias
Que me oprimem e esmagam.
Estou encarcerado, Senhor
Em prisões que invento e que quero
Porque as escolho, desenfreado
Na minha liberdade desbaratada
Pelo meu egoísmo fechado.
Mesmo se não quero cavar abismos
Nem atolar ainda mais a alma
Acabo por cair nas malhas da sedução
Do ter, do imediato, do mais fácil
Onde me engano e desmorono
Deixando-me levar
Arrastado pelas ondas vorazes
Do mundo que me rodeia e amordaça.

Leva-me contigo, Jesus, faz-me subir!
Talvez não seja digno que me escolhas
De tão afastado que tenho andado
Mas ouvi o convite que fizeste aos teus discípulos
Quando passava por perto
E caminhava à deriva.
Não sei para onde os queres levar
Nem o que acontecerá no cimo da montanha;
Mas vi o brilho do teu olhar
E a ternura que colocaste no teu convite
E gostava que alguém me olhasse assim;
Sabes, Jesus, estou cansado da indiferença
Do desprezo, da solidão que mata
E que alimento porque também eu sou assim.

Hoje descobri que tens um convite
Onde envolves de Luz os teus amigos
E eu quero subir essa montanha, Jesus!
Será íngreme a escalada?
Será duro o caminhar?
E que vai mesmo acontecer quando chegarmos lá cima
Longe desta inquietação que me angustia?
Deixa-me dizer-te o que gostava de ver
Lá no cimo da montanha para onde levas os teus amigos:
Gostava que Te transfigurasses
Te revestisses de luz
Com uma brancura que nenhum lavadeiro
Conseguisse alcançar;
Gostava de ouvir a voz do Pai
A falar de Ti
E que a nuvem do Teu Espírito nos envolvesse, maternal.

Eu quero subir contigo, Jesus
Mesmo que tudo o que digo, eu não entenda;
Eu sei que, no cimo da montanha, mais uma vez
O teu amor talvez me surpreenda.


P. Mário Tavares
oração para o II Domingo da Quaresma, ano B

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