O evangelho do próximo Domingo
sublinha dois aspectos relevantes para a nossa caminhada quaresmal: A
necessidade do arrependimento e a importância de darmos frutos na nossa vida.
O arrependimento não é um valor
de grande significado na sociedade em que vivemos. Num mundo tão agressivo e
concorrencial o que se põe em realce é o culto do herói e a eficácia que
alcança resultados mesmo sem olhar a meios. Os mais fortes e poderosos parece
estarem imunes a ter que rever os seus critérios de actuação. Só raramente a
justiça os condena. A arrogância, por vezes, é até apreciada e a vanglória
tolerada por uma sociedade sem valores.
Perante este cenário, falar em
arrependimento é ir contra a corrente. O mundo perdeu a consciência de pecado.
Tudo é permitido e nada é censurável. A ética perdeu o seu espaço e a moral é
um discurso inexistente. Todavia, há
coisas profundamente erradas na nossa sociedade que necessitam de mudança. Sem
a coragem da mudança, crescem de tom as apreensões face ao futuro.
Perante estes cenários,
compreendemos a exortação de Jesus no evangelho de Lucas: “Se não vos
arrependerdes...morrereis.” Não se trata duma ameaça ou duma punição, mas
antes, o resultado lógico das nossas escolhas. Se preferirmos os caminhos da
morte e da degradação social não poderemos esperar que o resultado seja a vida
renovada. Se maltratamos o planeta com comportamentos irresponsáveis, não
poderemos esperar a biodiversidade e a saúde dos nossos oceanos e das nossas
montanhas. Se fomentamos a violência, não podemos ansiar pela paz social.
O apelo ao arrependimento que
Jesus nos lança no evangelho, é um convite à responsabilidade dos nossos
comportamentos tendo em vista a nossa convivência feliz.
A coragem de mudar o que está
errado para abraçar o caminho do bem e da verdade reforça os laços da nossa
comunhão e faz-nos redescobrir o lugar que Deus deve ocupar na nossa vida.
Um caminho responsável feito de
compromissos sociais e de revigoramento espiritual leva a que a vida produza
abundantes frutos. No evangelho, o senhor da propriedade esperava colher figos
da figueira, mas havia três anos que tal não acontecia. O vinhateiro propõe-se
cuidar dela para que venha a produzir frutos no futuro. Cuidar da nossa saúde
espiritual e aprofundar a nossa fé em Deus é a via para produzir abundantes
frutos de salvação. Uma aridez espiritual vai minando o caminho da história e a
ausência de valores vai gerando um vazio crescente no coração da humanidade.
O arrependimento e o compromisso
perante a vida são as margens dum grande rio que nasce da sabedoria do
evangelho. O arrependimento não é um sinal de fraqueza, antes, é a ousadia de
recomeçar com novas convicções e com nova vitalidade. O egoísmo atrofia a
esperança; o arrependimento alarga os horizontes.
Nesta Quaresma, tenhamos a
ousadia do arrependimento.
P. Mário
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