O evangelho do próximo Domingo
narra-nos o início da pregação de Jesus, na sinagoga de Nazaré. Segundo o texto
de Lucas, depois do seu Baptismo, Jesus retirou-se para o deserto onde foi
tentado. Após esta experiência, Jesus viu confirmada a sua missão de anunciar o
Reino de Deus. Começou a percorrer a Galileia. Ensinava nas sinagogas e todos o
elogiavam.
Foi neste contexto que Jesus foi a
Nazaré, terra onde tinha crescido e onde todos o conheciam. Podemos imaginar o
entusiasmo com que os nazarenos o terão acolhido. A sua fama, como refere
Lucas, já se tinha propagado a toda a região e os seus conterrâneos deviam
sentir grande orgulho nisso. Todos gostamos que na nossa terra haja gente
famosa. Por isso, quando Jesus foi à sinagoga de Nazaré, em dia de Sábado,
pediram-lhe que fosse o leitor naquele dia. Jesus leu uma passagem do profeta
Isaías que anunciava a vinda do Messias.
Esta passagem messiânica descrevia
os sinais que deveriam acompanhar a vinda do Messias: O anúncio da Boa Nova aos
pobres, a redenção dos cativos, a vista aos cegos, a libertação aos oprimidos e
a proclamação do ano da graça do Senhor. O Messias seria o Ungido de Deus para
realizar estes sinais mediante os quais todos deveriam reconhecer que o Messias
chegara. Os olhos de todos os presentes na sinagoga estavam fixos n’Ele e
esperavam uma palavra sua.
Depois da leitura, Jesus enrolou o
livro de Isaías e proclamou: “Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura.”
Aquelas palavras, para Jesus, não eram letras passadas nem relativas a um
futuro incerto. Para Jesus, a Palavra de Deus é actual e, por isso, a sua
missão era um testemunho de que as profecias se estavam a cumprir n’Ele.
Podemos tirar alguns ensinamentos
desta passagem para a nossa vida: Quando escutamos a Palavra de Deus nas
leituras da Missa, podemos correr um risco muito comum: Imaginamos que aquelas
palavras se referem a acontecimentos muito longínquos que narram coisas do
passado que nos fascinam e nos deixam curiosos sobre o significado desses
acontecimentos. Assim, o Natal pode ser lido como uma história passada, assim a
Páscoa pode ser interpretada como um gesto heróico, mas acontecido há dois mil
anos.
Se ouvirmos a Palavra de Deus como um
acontecimento passado, estamos a criar distância entre nós que vivemos no
presente e a Palavra que narra coisas passadas. A sabedoria é escutar a Palavra
de Deus de modo a podermos dizer como Jesus: “Hoje cumpriu-se esta passagem da
Escritura” na minha vida. A Palavra de Deus é actual, pretende iluminar as
minhas vivências do presente e vem ao encontro da minha sede espiritual.
Escutar a Palavra sentindo que é
dirigida a mim no momento em que a escuto e que vem ao meu encontro porque Deus
não me deixa só, antes, se manifesta no meu caminho como Salvador, é a atitude
a ter ao escutar as leituras da Missa. Quando as escutamos, deverá haver
sempre, dentro de nós, uma inquietação sincera: O que me quererá Jesus dizer
com estas palavras?
Se as ouvirmos com atenção, talvez
possamos dizer, como Jesus: “Hoje cumpriu-se esta passagem da Escritura” na
minha vida.
P. Mário