COMENTÁRIO |20150524
A Igreja celebra, este Domingo, a Solenidade do
Pentecostes. Pentecostes significa 50 dias depois da Páscoa. Era uma
tradicional festa dos judeus que também se chamava festa das tendas, pois, os
muitos peregrinos que se aglomeravam em Jerusalém por esta ocasião, montavam tendas
à volta da cidade para se alojarem, conferindo-lhe uma atmosfera toda singular.
De algum modo, evocavam o tempo em que tinham sido nómadas e habitavam em
tendas no deserto.
Por ocasião desta festa tradicional, a comunidade dos
discípulos de Jesus vivia tempos de particular importância. As aparições de
Jesus depois da Páscoa, os sinais que se iam revelando, o episódio de Tomé, a
Ascensão de Jesus, tudo contribuiu para formar a consciência dos discípulos que
estavam agora prontos para a missão. Mas, porque a missão dos discípulos não
era uma estratégia meramente humana, precisavam do Espírito Santo para que as
suas palavras e os seus actos continuassem a própria missão de Jesus.
No dia de Pentecostes, estando reunidos no Cenáculo, desceu
sobre eles o Espírito Santo como Jesus tinha prometido. Este momento, em certa
medida, pode ser considerado o momento fundacional da Igreja como comunidade
que continua a missão de Jesus. Salientamos três aspectos fundamentais que dão
sentido ao que os discípulos viveram nesse dia: O Espírito Santo, a Missão e a
Misericórdia.
1. O Espírito Santo é a segunda Pessoa da Santíssima
Trindade. O Espírito Santo é Deus que actua na história e na vida dos
discípulos em ordem à edificação do Reino de Deus. Depois do tempo da
experiência da morte do Mestre, do medo e da insegurança, da mentira e da
indecisão, o Espírito inundou de luz os corações dos discípulos. O Espírito
Santo é o sinal visível de que Deus continuava presente e actuante na vida dos
apóstolos e, através deles, em toda a Igreja e na humanidade.
2. A Missão é a Igreja a ser fiel a Jesus. Os cristãos são
enviados a testemunhar com palavras e acções a verdade do evangelho. Se os
primeiros cristãos não fossem uma comunidade missionária e se, ao longo dos
tempos, a Igreja não continuasse a ser fiel à missão, o evangelho não teria
chegado a nós e ao mundo inteiro. Hoje acreditamos porque alguém nos anunciou
Jesus e nós passámos a acreditar também.
3. A Misericórdia é o segredo e a alma da missão. É uma
palavra rica de significado que exprime o quanto Deus nos ama e nos perdoa. Os
discípulos são enviados não para expandir uma religião nova mas para espalhar,
antes de mais, os sinais do amor de Deus que nos redime porque é rico em
Misericórdia.
Estas três ideias fundamentais bem explícitas no evangelho
de hoje deverão definir também o nosso modo de ser Igreja no nosso tempo. Hoje,
a Igreja tem que ser uma comunidade aberta ao Espírito Santo para que o que
anuncia e o que faz não seja só o fruto da nossa inteligência e das nossas
capacidades mas, antes, seja a acção do Espírito de Deus em nós. Sem esta
acção, a missão da Igreja é meramente humana e equipara-se a uma outra qualquer
instituição humanitária. Com o Espírito Santo, a Igreja torna-se expressão do
amor de Deus.
É precisamente esse rosto que o mundo quer ver nos
discípulos de Jesus. Uma Igreja atrofiada nas malhas dos escândalos, bloqueada
perante a gravidade dos problemas e angustiada perante as apreensões da hora
presente, está longe de continuar a missão de Jesus e de ser fiel ao Espírito
que renova todas as coisas.
Neste Pentecostes, tomemos consciência da nossa
responsabilidade e tenhamos a ousadia de transformar o que precisa de ser
renovado. Comecemos por nós.