COMENTÁRIO| 20150510
São João, no evangelho do próximo Domingo, reafirma a
verdade maior da nossa fé: O amor. São incontáveis as páginas que o fazem mas
se quisermos seleccionar uma que servisse de referência, esta poderia ser uma
delas.
A fonte do amor é Deus. E é dessa fonte que a nossa vida é
inundada ao ponto de sermos chamados seus amigos a quem Jesus dá a maior prova
de amor que é morrer pelos seus. Consciente das nossas limitações, o Mestre da
Galileia não deixa de nos advertir para um perigo constante: Não basta um
entusiasmo passageiro, é preciso permanecer no amor. O fruto deste permanecer é
a alegria plena. A isto Jesus nos convida e nos envia para o coração do mundo.
Estas palavras de Jesus são dissonantes face aos anúncios do
mundo. Hoje o amor não tem fonte e se alguma coisa o caracteriza é o seu
carácter volátil. Tem medida de cada um e está balizado pelos desejos e
caprichos do próprio. As palavras de Jesus são tremendamente denunciadoras da
cultura do egoísmo que nos assola. O amor interessa se me interessa. O desejo
da fruição do momento e o imediatismo das vivências substitui a coragem de dar
a vida pelo outro, de abraçar o seu drama, de fazer sua a dor e a ferida do
outro.
O amor perdeu, em larga medida, a prioridade do outro e, por
isso, não permanece. Não por acaso, João insiste tanto no tema de “permanecer”.
Amar a Deus e amar o outro não pode ser um fogo de palha que depressa alcança
um grande brilho mas que, de imediato, se desvanece. Permanecer é o segredo e
só permanece quem ama na dimensão da cruz.
Hoje, a felicidade é o mito que todos querem alcançar mas é,
ao mesmo tempo, a maior das desilusões. Os nossos tempos caracterizam-se pela
depressão social e pela angústia existencial. Viver na vertigem do imediato,
tirou-nos os horizontes da alma. Nunca se cultivou tanto a felicidade e nunca
se edificou tanto a depressão!
E, no entanto, a felicidade é também o grande sonho de Deus.
Diz Jesus no evangelho do próximo Domingo: “Disse-vos estas coisas para que a
minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa.” Deus anseia pela
nossa felicidade. Viver na alegria deveria ser o sinal distintivo dos cristãos.
Neste aspecto, será necessário uma verdadeira conversão na
nossa experiência de cristãos. Não deveria ser possível participar na
Eucaristia e volta a casa com rosto desalentado; não deveria ser possível
rezarmos juntos, como irmãos, e vivermos na mais perfeita indiferença; não
deveria ser possível dizer que Jesus ressuscitou enquanto permanecemos
desolados por não vislumbrarmos um sentido para a vida.
Viver a fé em Cristo é deixar que o seu amor nos inunde para
aí permanecermos. Não como quem fica inerte, saboreando egoisticamente os
frutos duma felicidade imaginada mas como quem se compromete com os outros por
ter descoberto que amar é dar a vida.
Que as palavras de Jesus sobre o amor nos ajudem a
redescobrir o segredo da verdadeira felicidade e da alegria completa.
Padre Mário Tavares de Oliveira
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