SALVAÇÃO E CONDENAÇÃO
COMENTÁRIO | 20150315
No próximo Domingo, o evangelho de João propõe-nos o tema da
salvação e da condenação. Sendo um tema que está no coração da mensagem cristã,
é importante determo-nos a reflectir sobre esta questão.
Com frequência, remetemos a questão da salvação e da condenação
para o Além, num futuro incerto e vago. Estamos habituados a pensar neste tema
dentro da perspectiva de ir para o céu, para o purgatório ou para o inferno, de
acordo com os nossos méritos. Um atento olhar para esta passagem do Evangelho,
leva-nos a conclusões interessantes.
João começa por aludir a uma passagem do Êxodo. O povo de
Israel, em pleno deserto, foi acometido duma praga de serpentes venenosas que
causaram uma enorme mortandade. O Senhor mandou Moisés colocar uma serpente de
bronze no cimo dum poste como sinal da cura de Deus e da sua misericórdia. Este
simbolismo é utilizado como anúncio profético do que acontecerá com Cristo na
Cruz, fonte de toda a misericórdia e salvação da humanidade.
João apresenta a salvação da humanidade como fruto do amor
de Deus. De tal modo Deus nos ama que nos enviou o seu Filho não para condenar
o mundo mas para o salvar. O nosso pecado não impede de Deus ser rico em
misericórdia. Por maior que ele seja, o amor de Deus será sempre maior. O mérito é seu e inunda-nos com o seu amor. Quem acredita em
Jesus, escuta as suas palavras e vive os seus ensinamentos, não será condenado.
O amor de Deus manifesto na vida de Jesus, na sua morte e ressurreição, é o gesto que nos salva.
A condenação consiste em amar mais as obras das trevas do
que a luz. O caminho do mal é o ódio às obras da luz, ao caminho do amor e da
fraternidade. Estas palavras de Jesus têm uma grande aplicação à nossa vida e à
história presente.
Na nossa experiência, quando deixamos que seja o rancor e o
ódio a comandar os nossos comportamentos, vemos crescer a angústia no nosso
coração e o desespero nas nossas acções. Nesses momentos somos capazes dos
maiores horrores. Temos vistos nos últimos dias através dos meios de comunicação, vários casos de crimes e
homicídios entre membros da mesma família porque o ódio se apoderou do coração.
Este é um caminho de trevas que nos faz cair no abismo.
Entretanto, a própria história da humanidade, no seu todo,
vai-se confrontado com sinais de indiferença, políticas egoístas e imposições
do mais forte que dão como resultado injustiças gritantes, desigualdades
clamorosas e ausência de esperança nos corações.
Certamente, a salvação também tem a perspectiva do futuro em
Deus mas, neste evangelho, Jesus implica-nos no presente da história. Uma
sociedade mais humana e mais fraterna exprime o caminho de salvação que Deus
quer ver acontecer no presente da nossa história. Os caminhos do ódio
contradizem o projecto de Deus, cavando abismos de perdição.
O cristão é chamado a ser um testemunho da luz. Olhar cada
irmão como uma oportunidade para amar, na família, no trabalho, nos
compromissos sociais é a melhor forma para saborearmos, desde já, a salvação
que Deus quer que aconteça.
Olhar a salvação e a condenação como ideias só do Além, pode
desmotivar-nos do nosso compromisso com os outros, no presente; olhar a
salvação e a condenação como Jesus nos ensina no Evangelho, leva-nos ao
compromisso e à responsabilidade de mudar a história, humanizando-a.
Façamos da salvação uma experiência do presente para
alcançarmos, um dia, a plenitude em Deus. A salvação em Deus não se compreende
sem a salvação da nossa história.
Padre Mário Tavares de Oliveira
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