DOMINGO V – TEMPO DA QUARESMA – ANO B

COMENTÁRIO


A fama de Jesus já tinha passado as fronteiras. Uns emigrantes gregos que tinham vindo a Jerusalém para celebrar a Páscoa foram ter com os discípulos porque queriam ver Jesus. O evangelho do quinto Domingo da Quaresma relata-nos a catequese de Jesus a propósito desta vontade manifestada por estes peregrinos de Jerusalém.

Jesus anuncia a hora da salvação. Este era o anúncio esperado desde sempre pelos discípulos e por todo o Israel. Todavia, este anúncio é desconcertante. A hora do redentor não seria, afinal, uma conquista fulgurante nem uma victória esmagadora. A hora da Glória pressupõe o abraço da cruz, a entrega e a morte.

Nesta passagem do evangelho de João, Jesus anuncia a lógica do Reino: É morrendo que se vive. «Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só. Mas se morrer, dará muito fruto». E Jesus não tinha vindo à terra para ficar só mas para gerar a nova fraternidade entre os homens, a nova humanidade. Isso implicava ser o “homem das dores”, abraçar os últimos, descer aos infernos. Como diria hoje o Papa Francisco, ir até às periferias mais distantes.

Uma voz do alto faz-se ouvir, na linha do que tinha acontecido no momento do Baptismo quando o Pai exortava a que escutássemos a voz do Filho. Anuncia a sua Glória mas o caminho da Glória é o abraço da Cruz. O amor à vida implica dá-la completamente. Só quem a dá, a pode receber em plenitude.

Esta lógica de Jesus contraria os critérios do mundo. Estamos convencidos de que é tendo todas as coisas da vida que, então, a gozamos plenamente. A nossa lei é o egoísmo; a lei de Jesus é o amor. O segredo da vida não é ganhá-la a todo o custo mas, antes, dá-la como dom, como gesto de amor. E quando somos capazes de o fazer, experimentamos o sentido mais elevado da nossa existência porque é dando que se recebe. O que não se dá por amor, perde-se na esquizofrenia do egoísmo.

Elevado na Cruz, Jesus está suspenso entre a terra e o céu. Crucificado, Jesus é a ponte que une o tempo e a eternidade, Deus e o homem, o paraíso e história. «Quando for elevado da terra, atrairei todos a mim». É inesperado o gesto da nossa salvação que Jesus realiza por amor à humanidade. O aspecto dum crucificado não seria o cenário mais atraente para se ver, no entanto, na Cruz, Jesus denuncia a história da fragilidade humana e do pecado enquanto anuncia a beleza da vida nova que agora nos entrega.

A lógica da Cruz deveria educar também a nossa lógica, o modo como vivemos e nos comportamos. É no nosso quotidiano que os critérios de Jesus se hão-de aplicar. E o caminho é este: É preciso dar a vida para que ela aconteça em abundância. Se estivermos atentos, não faltarão ocasiões para pôr em práctica os critérios de Jesus.

Na família, por exemplo, o importante não é quem tem mais razão mas quem mais ama. Quantas vezes é preciso saber perder e acolher a razão do outro para ser possível reconstruir os laços do amor? Quantas vezes é preferível guardar no coração, controlando o ímpeto das palavras corrosivas, para que renasça a entrega renovada das nossas vidas?


Neste tempo de Quaresma, não nos faltarão oportunidades de viver como Jesus nos ensina com o testemunho da sua vida. Chegou a hora! Não deixemos para um tempo incerto a vivência do amor. Este é o tempo oportuno para experimentarmos a vida nova que as palavras de Jesus anunciam.

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