DOMINGO III | TEMPO DA QUARESMA | ANO B

Os vendilhões do nosso templo

COMENTÁRIO

O Evangelho do próximo Domingo, o terceiro da Quaresma, apresenta-nos um episódio emblemático da vida de Jesus: A expulsão dos vendilhões do Templo que, segundo João, aconteceu na primeira ida de Jesus a Jerusalém, durante a sua vida pública, para celebrar a Páscoa.

A celebração da festa da Páscoa era para o judeu um acontecimento marcante que atraía a Jerusalém grandes multidões de peregrinos e forasteiros. A cidade da Paz transbordava de gente por essa altura e, apesar do motivo da celebração da Páscoa, será fácil de adivinhar a agitação das turbas que fariam comprometer o ambiente pacificador que se exigiria para o acto.

Jesus foi também celebrar a Páscoa com os discípulos. Segundo a religião judaica, existe um único Templo que se situava no Monte Moriá, na cidade santa de Jerusalém. A expectativa era sempre grande para quem vinha de longe como acontecia com Jesus e os discípulos. Ao chegarem ao Templo, Jesus depara-se com um espectáculo degradante. O Templo era palco de actividades profanas e a azáfama dos comerciantes retiravam-lhe o carácter sacro que era suposto nele encontrar. Jesus expulsa os vendilhões do Templo zelando pela casa do Pai. Como resultado deste gesto, detém-se a discutir com os judeus sobre o significado da sua atitude. Estes pedem um sinal e Jesus anuncia-lhes que reconstruiria o Templo em três dias se ele fosse destruído. Os discípulos lembrar-se-iam deste anúncio no dia da Ressurreição porque Jesus falava do seu corpo.

Jesus convida-nos também a nós a subirmos com Ele para a celebração da Páscoa. A Quaresma é este caminho feito de subidas até ao grande gesto do amor de Deus que é a morte e a ressurreição de Jesus. Em cada ano, a Páscoa deveria ser o núcleo central da nossa fé. A Páscoa é a celebração onde a entrega de Deus por amor se consuma do modo mais sublime e inesperado. Jesus convida-nos para este encontro de comunhão íntima onde a nossa natureza é redimida no seu abraço.

Todavia, pode ser que a nossa celebração da Páscoa possa ser perturbada e fiquemos muito aquém das expectativas. Quando deixamos que os nossos interesses tomem o lugar da nossa doacção aos outros; quando negligenciamos os nossos deveres de cristãos por outras tarefas banais; quando não nos detemos a rezar redescobrindo a beleza de Deus que nos salva; quando não partilhamos os nossos dons e os nossos bens como quem se quer dar através dos seus sinais de amor concreto, estamos a comprometer as possibilidades libertadoras da festa da Páscoa.

Se este é o nosso caminho, corremos o risco de ver inundado o nosso templo de interesses suspeitos, de comportamentos escravizantes e de contradições gritantes. Se o templo do nosso coração está sufocado por tantos interesses mesquinhos, não haverá lugar para Jesus que, mais uma vez, quer renovar o seu amor segundo a sua lógica de quem dá a vida a favor da multidão.  


Mais do que ficar a olhar para o que aconteceu no tempo de Jesus, cuidemos do nosso coração onde as velhas paixões nos podem impedir de renovar o abraço redentor do nosso Deus. Ele vem de novo inundar de luz os nossos caminhos de trevas e para fazer ressurgir a vida onde há sinais da vida ameaçada. Para que isso aconteça, há um caminho que é nosso e que temos de o percorrer. Há mudanças e conversões que nos competem a nós. Libertemos o nosso coração para Jesus o encontre disponível para a Páscoa e não atafulhado de tudo o que nos impede de saborear a sua presença.  

Sem comentários:

Enviar um comentário