COMENTÁRIO|20170610
No próximo Domingo a Igreja
celebra a solenidade da Santíssima Trindade. É o mistério maior da nossa Fé. A
Igreja, na sua pedagogia infinita, coloca, logo depois do Pentecostes, o
Domingo da Santíssima Trindade. A complexidade de tão grande mistério não nos
pode paralisar nem desmotivar nesta questão fundamental: Quem é afinal o nosso
Deus?
A liturgia do próximo Domingo
pretende, em grande medida, ajudar-nos a encontrar respostas para esta
pergunta. No Domingo da Santíssima Trindade, o evangelho de João, na linha das
leituras anteriores, coloca o coração da mensagem cristã no amor de Deus: “Deus
amou tanto o seu povo que entregou o seu Filho...” para que tenhamos a vida
eterna no Seu Espírito. No centro da fé e da experiência cristã está sempre o
dinamismo do Amor que o Pai tem pelo Filho e que no-Lo comunica no Espírito.
Poderíamos dizer que o nosso Deus não é um solitário das cavernas ou das
montanhas escarpadas. O nosso Deus é uma comunidade de Amor onde o eterno Pai
ama o Seu Filho e nos comunica o Espírito para que também nós entremos a fazer
parte dessa comunhão de Amor. Este é o mistério maior da nossa fé.
As nossas palavras serão sempre
limitadas demais para explicar quem é Deus. Deus está sempre para além das
nossas palavras e dos nossos conceitos. Por isso, Deus não se explica nem se
prova cientificamente porque é uma Verdade para além das nossas possibilidades
de compreensão. Aliás, na nossa vida, talvez as coisas mais importantes também
não se explicam: quem consegue explicar o que é o amor? E quem consegue definir
com rigor o que é a dor? Alguém poderá poder mesmo o que é a felicidade? Porém,
mesmo sem definir exactamente estes conceitos, eles fazem parte da nossa vida.
São mistérios grandes e próximos, ao mesmo tempo. Da Santíssima Trindade,
poderemos dizer o mesmo. Por um lado, é um mistério insondável, mas ao mesmo
tempo, é a Verdade mais próxima e presente na vivência da nossa fé. Podemos
dizer que Deus não é para compreender, antes, é para viver.
Se quisermos encontrar no Novo
Testamento uma expressão que define quem é Deus, podemos recorrer a São João
quando afirma: “Deus é amor”. Dizer “Deus é amor” é o mesmo que dizer
Santíssima Trindade. Que as palavras não tornem obscuro e longínquo um mistério
que, afinal, nos é tão próximo. Contemplar o mistério da Santíssima Trindade é
vivenciar o amor com que Deus se revela na história da salvação e na minha
história pessoal. O Deus dos cristãos é um infinito mistério de amor e não um
enigma indecifrável.
Como podemos, então, viver esta
Palavra?
A Igreja é, no mundo, reflexo ou
imagem da Santíssima Trindade ou de Deus-Amor. Por isso, quando damos um copo
de água por amor ao irmão, estamos a reproduzir entre nós o Amor trinitário de
Deus. Em cada gesto de amor conreto, o céu une-se à terra, os homens unem-se a
Deus. Celebrar o mistério da Santíssima Trindade é viver imerso nesta Verdade
maior, é viver no coração do nosso Deus.
Numa palavra, quando amamos
concretamente, tornamo-nos especialistas do mistério da Santíssima Trindade que
não é só uma doutrina, mas é, sobretudo, a revelação do amor que nos salva. Se
vivermos nesta tensão, surpreender-nos-emos com as maravilhas que Deus tem
reservadas para nós. Vivamos imersos no Amor, vivamos no coração da Santíssima
Trindade.
P. Mário