DOMINGO SANTÍSSIMA TRINDADE ANO C

COMENTÁRIO|20150522

  

No próximo Domingo, a Igreja celebra a solenidade da Santíssima Trindade. Sendo o mistério central da nossa fé, não raras vezes, é relegado para o plano dos mistérios insondáveis e inacessíveis. O resultado é uma desfocada dimensão trinitária na configuração da nossa fé.

Há uma nítida dificuldade em aliarmos o mistério da Trindade à nossa experiência de fé. Em grande parte, esta dificuldade tem a ver com a nossa vontade de querermos conhecer quem é Deus e quais são os meandros da divindade. A verdade é que nunca saberemos descortinar as verdades da transcendência do mesmo modo que conhecemos a lei da gravidade ou a cura de qualquer doença. Para conhecermos Deus, mesmo recorrendo à nossa inteligência, havemos de percorrer outros caminhos.

A Bíblia não utiliza a expressão Santíssima Trindade para caracterizar o nosso Deus. Quando tem que lhe dar um nome, São João recorre ao conceito do Amor para dizer quem é Deus: Deus é Amor. No fundo, o que os teólogos e filósofos dizem quando chamam a Deus Santíssima Trindade é equivalente ao que São João diz quando afirma que Deus é Amor. E se o conceito de Santíssima Trindade nos parece complexo e de difícil abordagem, já a noção de Amor nos parece muito mais acessível é próxima.

Jesus ensina aos discípulos que “quem ama permanece em Deus e Deus permanece nele”. É na experiência de nos amarmos uns aos outros que saberemos quem é Deus. “Onde há caridade e amor, aí está Deus”. Se nos parecem difíceis e inacessíveis os raciocínios para saber quem é Deus, já a via do amor e da caridade nos poderá fazer entrar na experiência de Deus como filhos e discípulos.

Compreendemos o que Santo Agostinho quer dizer quando afirma: “Ama e faz o que quiseres.” Amar implica compromisso com o outro, implica dar a vida tal como para Jesus, segunda pessoa da Santíssima Trindade. Para Jesus, amar não dignificou um sentimento vago, meramente espiritual e ou simples vontade moral. Para Jesus amar significou morrer na cruz e dar a vida pela humanidade. E precisamente na Cruz e no seu acto de entrega, Deus revela-se em todo o seu esplendor. Na Cruz, o Pai entrega o Filho, o Filho entrega-se pela humanidade e na hora suprema, entrega o Espírito ao Pai. Este é o ícone do Amor cristão, esta é a verdade do Deus cristão.

Acreditar na Santíssima Trindade é compreender, antes de mais que Deus é Amor e que a medida do Amor é a Cruz de Jesus. O nosso Deus não é uma ideia difícil de entender, é antes, um gesto acessível a todos nós. Consiste em amar e é amando-nos que saberemos quem é Deus porque o experimentaremos nas nossas vidas.

É o Amor o mistério que realiza a unidade entre as três Pessoas divinas, distintas e numa só natureza. É também o Amor que realiza na Igreja o milagre da comunhão, fazendo de todos, um só coração e uma só alma. Por isso, a Igreja é ícone da Trindade, expressão do amor de Deus sobre a terra. Mistério insondável e, ao mesmo tempo, tão próximo. Basta amar para vermos Deus.  


P. Mário 


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