DOMINGO II        TEMPO DO ADVENTO          ANO C


No próximo Domingo, a Igreja celebra o segundo Domingo do Advento. O evangelho de Lucas faz o anúncio solene da profecia de João Baptista que vem pregar um baptismo de penitência para a remissão dos pecados. Impressiona o modo eloquente como é apresentada a missão de João, mas compreende-se, pois, o profeta vem anunciar o Messias esperado por Israel desde as profecias antigas.

João é uma das figuras centrais do tempo do Advento. Traz consigo o importante ministério de dar corpo à esperança do povo de Israel. O cativeiro e o desmoronamento das estruturas e instituições de Israel marcam o ritmo da sua história e são fonte de grandes angústias. A promessa da salvação e duma grande nação assinalam a Aliança de Deus com o seu povo. Mas a história parecia desdizer esta esperança. Ao tempo de João Baptista, o povo judeu estava sujeito ao poder imperial de Roma para grande descontentamento dos israelitas.

É neste contexto que se faz ouvir a voz do profeta. Não vem anunciar uma conquista nem uma nova dinastia real. Não vem prometer uma terra ou uma descendência. João anuncia o Reino de Deus e a vinda próxima do Messias.  Desfeitas todas as esperanças nos poderes humanos, na força dos exércitos ou na força dum rei excepcional, João exorta à mudança de vida como caminho dum reino novo, fundado no amor de Deus.

A sua voz clama no deserto. Reveste-se de grande simbolismo para o nosso tempo a missão de João Baptista. Hoje, tal como outrora, a voz de Deus faz-se ouvir pelo anúncio dos profetas do nosso tempo que, iluminados pelo Espírito Santo, apresentam caminhos de salvação para hoje. A salvação não é uma verdade garantida. Necessita do nosso acolhimento ao amor libertador de Deus. O homem pode rejeitar a salvação e pode hipotecar o gesto redentor que nos vem por Jesus Cristo. Quando recusamos a voz dos verdadeiros profetas, comprometemos a obra da salvação do nosso Deus.

Recordaremos todos a palavra de João Paulo II, quando por ocasião da primeira guerra do Golfo, alertava para a espiral da violência que tal conflito poderia desencadear. Violência atrai violência, profetizava o agora santo polaco. Era imperiosa a ousadia de quebrar o ciclo da violência como serviço à humanidade. A verdade é que, desde então, uma atitude de agressão tem tido uma resposta ainda mais violenta da outra parte. Volvidos todos estes anos, vamos assistindo à concretização das palavras do profeta e vemos como hoje a violência está a ganhar dimensões incontroladas.

Hoje, novos profetas vão falando em nome de Deus. O Papa Francisco alerta-nos para que o nosso Natal não seja uma hipocrisia. O sucessor de Pedro pede-nos um Natal verdadeiro. Para isso, é necessário cuidar dos caminhos do nosso coração para acolher o Messias que vem renovar a sua presença em mais um Natal. Há muitas fragas e penhascos de violência que é preciso abater e muitos vazios de solidão que é preciso preencher. Há caminhos tortuosos de egoísmo que é preciso endireitar e veredas escarpadas de orgulho que é preciso suavizar com o amor.

O Advento é um tempo oportuno para escutar a voz dos profetas que clamam no deserto. Não deixemos que seja vã a sua profecia. Se muitos acreditam na força das armas, acreditemos nós na força do Amor.

P. Mário

  

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