DOMINGO III – TEMPO PASCAL – ANO B

COMENTÁRIO |20150419


As aparições de Jesus aos discípulos, depois da Páscoa, pretendem ser uma confirmação da fé pascal e um convite à missão de edificar o Reino de Deus. O evangelho do próximo Domingo apresenta-nos mais uma dessas experiências da comunidade apostólica. Os discípulos de Emaús tinham regressado para contar o que lhes tinha acontecido no caminho. Enquanto contavam a sua experiência, Jesus apareceu-lhes, de novo.

No Domingo passado, Jesus convidou Tomé a pôr o seu dedo nas suas chagas para que acreditasse. Agora, Jesus mostra as suas feridas e convida a todos: «-Tocai-me e vede». Durante a vida pública de Jesus, um dos seus gestos típicos consistia em tocar nas feridas humanas: No leproso, no cego, no paralítico, na pecadora. Agora, é Jesus ressuscitado que convida os discípulos a que O toquem para que possam ver que era mesmo Ele.

Jesus ressuscitado deixa-se tocar. Ontem e hoje: Torna-se presente no meio de nós quando nos reunimos em seu nome; fala-nos quando escutamos a sua Palavra; olha-nos quando o reconhecemos no pobre e no só; toca-nos quando nos aproximamos das suas feridas sempre de novo abertas nos irmãos com quem nos cruzamos.

No Cenáculo, Jesus abriu o entendimento aos apóstolos para que pudessem compreender o sentido das Escrituras. No Cenáculo, cada palavra de Jesus resplandecia de significado e cada gesto do Mestre da Galileia era entendido sem necessitar de explicação. Esse entendimento foi restaurando a confiança dos seguidores de Jesus que, assim, foram vencendo o medo e a angústia. A alegria do ressuscitado instalou-se no íntimo do coração dos apóstolos, confirmando a sua decisão de terem deixado tudo para seguir o Mestre.

Conviver na alegria do Senhor ressuscitado, compromete na missão. Por isso, Jesus lhes diz: «Vós sois testemunhas de todas estas coisas». A Igreja nasceu da experiência do testemunho. O cenáculo poderia ter sido o túmulo da Igreja se os discípulos tivessem optado pelo silêncio comodista ou pelo medo covarde e tivessem sonegado o anúncio do ressuscitado. Em vez disso, os discípulos puseram em prática as palavras de Jesus e, da sua missão, nasceu a Igreja que, entre luzes e sombras, vai edificando o seu Reino de misericórdia.

Como podemos, também nós, pôr em prática as palavras deste Evangelho? Antes de mais, não podemos demitir-nos de nos reunir com os irmãos. É verdade que Jesus está no nosso coração, no silêncio do nosso quarto e no íntimo da nossa consciência. Mas há uma presença de Jesus que é própria da comunidade reunida, em oração e em louvor. Jesus confirma na fé da Páscoa a comunidade presente no Cenáculo e a esses abre-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras.

Hoje, o comodismo vence muitas vezes a vontade de estar com os irmãos, na assembleia do Domingo, para celebrar a Eucaristia. Tentamos encontrar justificações para não irmos quando, no fundo, sabemos bem que não vamos por uma espécie de pacto com o desleixo espiritual e com o comodismo dos nossos hábitos.

A fé em Cristo não é uma atitude religiosa privada através da qual vou modelando a minha sensibilidade espiritual. A Fé em Cristo é, antes, a comunhão dos irmãos reunidos que provocam a presença do Ressuscitado que, por sua vez, os impele à missão e ao testemunho. Celebrar a Páscoa implica redescobrir a nossa pertença a uma comunidade de irmãos. Sem a comunidade, corremos o risco de nos tornarmos adeptos duma religião com um único membro que somos nós próprios.


Redescobrir a comunidade que me confirma na fé pascal é um desafio que se renova, cada ano, na Páscoa da ressurreição. 


Padre Mário Tavares de Oliveira

Sem comentários:

Enviar um comentário